domingo, 28 de maio de 2017

Por (meu) amor à arte

Faz uns dias fui visitar a cidade de Poços de Caldas, devido algumas atividades apostólicas. Em certo momento, enquanto admirava a vista desde a esplanada do Santuário, um amigo me pergunta: “o que você vê alí?”, enquanto apontava uma montanha que estava a nossa frente. Como que lembrando os desenhos de Saint-Exupéry, respondi instantaneamente: “um elefante deitado...”. Qual foi minha surpresa ao escutar como contra-resposta: “Sim! Você também viu! Não é todo mundo que vê de primeira!”. E realmente não são todos os que conseguem... poucos minutos depois tivemos que explicar (quase desenhar) qual era a forma da tal montanha para uma outra pessoa... afinal as pessoas grandes “sempre têm necessidade de explicações detalhadas” (p. 10), elas “não compreendem nada sozinhas, e é cansativo, para as crianças, ficar toda hora explicando...” (p. 10).
Isso tudo me deixou pensando em como vemos o mundo e também em como o representamos, como expressamos o nosso modo de ver o mundo aos demais. As vezes penso que vejo o mundo de um modo diferente dos demais, mas também reconheço que (na grande maioria das vezes) eu vejo o mundo como um grande emaranhado de conexões materiais e comerciais, deixando de lado o sopro profundo que submerge entre passos e números. Queria poder ver sempre esse respiro divino, “Mas, infelizmente, não sei ver carneiros através de caixas. Talvez eu seja um pouco como as pessoas grandes. Devo ter envelhecido” (p. 21). Queria não ficar tão fixados em formas quadriláteras, quase numéricas, e poder reconhecer as curvas espirituais presentes em todos os lugares. Queria poder reconhecer melhor o sentido do que vejo, queria reconhecer mais elefantes em montanhas e não me fechar aos ângulos, queria compreender melhor o sentido da vida e dar menos importância aos números (cf. p. 20).
Infelizmente estamos sempre olhando em frente e planejando o futuro e não olhamos o bater de asas dos pequenos insetos e sua desenvoltura dançável entre sopros e respiros. É importante que não fiquemos sempre olhando somente para frente. “Quando a gente anda sempre em frente, não pode mesmo ir longe...” (p. 18). É importante olhar em volta e reconhecer que o modo como eu gostaria de representar a maravilha da arte é só um simples ponto de vista de uma magnitude da criatividade artística de um Deus que não se cansa de criar e amar. Quem dera eu pudesse reconhecer uma mínima ponta de agulha de toda a arte escondida entre os maquinários criados pelo homem, escondendo e emoldurando peças únicas de um artista quase esquecido. Seria tão belo olhar e reconhecer essa arte diluída e sentir uma luz que preenche e transborda, deixar que o que se vê ilumine minha face, ainda quando eu esteja jugando o que vejo (cf. p. 14).
A vida de um artista não se limita a criar, de criadores o mundo está creio. A arte também não se trate de reproduzir ou copiar, para isso inventaram muitas máquinas diferentes que ofuscam a verdadeira arte. A arte está em reconhecer o mundo de um ponto de vista diferente, reconhecer que a arte não surge do que cada um inventa, mas sim em expressar esse sopro divino de um modo próprio de cada um. A arte que expressamos, que “fazemos”, é um reconhecer-se instrumento. Um instrumento que vê o mundo de um modo diferente, que o interioriza de um modo diferente e o expressa de um modo diferente. Que bom seria se cada um pudesse reconhecer a arte permanente entre cabos e postes, entre passos e números. Que bom seria se pudéssemos reconhecer elefantes em montanhas, movimentos no bater de asas de moscas, curvas no vento, danças nas notas musicais...

(Pequena expressão do meu amor à arte)

As páginas citadas são do Livro "O Pequeno Principe" de Antoine de Saint-Exupéry da editora Agir.

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